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Foto do escritorBlack Brazil Art

MOSTRANDO ARTE FEMININA: NICHO OPORTUNISTA OU PREENCHIMENTO DA LACUNA NA HISTÓRIA DA ARTE?



Recentemente, as Guerrilla Girls, um coletivo feminista que trabalha contra a invisibilidade das mulheres na arte, enviou um questionário a 383 museus europeus. O objetivo: questionar e desafiar essas instituições culturais por parte de artistas femininas representadas em seus muros. Apenas cem responderam.

Na época, o critério de gênero para selecionar artistas de uma jornada de museu havia suscitado uma controvérsia muito viva.

Oito anos depois, provavelmente não estaríamos mais falando sobre o "sexo" dos artistas, mas mais sobre "gênero" na arte. Mas acima de tudo, em um contexto mais pacífico. Porque a "Bienal Black Brazil Art", que começou em novembro de 2019 e foi até o início de março de 2020, dedicada a uma proposta 100% feminina, trouxe também para o debate os homens que pensaram na arte das mulheres como invisíveis.

Enquanto o mundo abre seus discurso para acolher ou entender a ausência da arte produzida por mulheres em espaços de museus e galerias, floreia no Brasil, experiências a passos lentos, mas significativas e mudanças de olhares de dentro para fora, a procura de identidade. Presidida por Patricia Brito-Knecht a Black Brazil Art decidiu organizar, numa base bienal, uma exposição exclusivamente feminina. A curadora, que vem desenvolvendo provocações com esse recorte, cujo objetivo é restaurar o lugar das mulheres artistas no roll das artes, continua a ação de re-visibilidade iniciada lá em 2005.


Para Patrícia, o recrutamento de protagonistas das artes brasileiras negras foi significativo. A preocupação foi transformar e tornar debates num programa mais visível e previsível no contexto de uma paisagem cultural extremamente densa no campo da arte contemporânea feminina. Patrícia Brito-Knecht é uma personalidade identificada sobre esses temas, e defende a visibilidade das mulheres, principalmente as negras, na arte parecendo óbvio. Temos a responsabilidade de responder a essa pergunta que, como outras questões que abrangem a arte e o mundo social. A arte ainda não escapou do processo de dominação.


Patricia afirma que ninguém, responde à mídia, com facilidade sobre o quão dificil é quebrar certos paradigmas de ordem patriarcal, objeta que essas exposições contribuem para equalizar um pouco mais as mulheres no cenário e mercado das artes – já que o objetivo final é monetizar. No entanto, o cerne do debate em torno de exposições basea-se em gênero.

ARTE FEMININA VS ARTE FEMINISTA



Patrícia diz ainda, que artistas femininas "não têm nada em comum". Portanto, não há essencialização de seu trabalho, mas uma vontade política e feminista de mostrar seu trabalho, de explodir a bolha da invisibilidade que continua sendo um poderoso cadeado, enquanto anos a fio as mulheres ainda são minoria nos acervos.


A Bienal Black Brazil Art tentou escrever uma história inserindo novos personagens da arte através de uma jornada inteiramente feminina, para arriscar que pudessem contar essas histórias nas coleções dos museus e galerias por onde passou.


No catálogo da exposição "Mulheres (in) Visíveis" foram compilados alguns textos de mulheres artistas convidadas e a pergunta que pairou foi: "Por que não existem grandes artistas femininas e negras nesses museus?" A história da arte como teria sido escrita se as mulheres não fossem invisíveis teria sido diferente porque os cânones da arte seriam diferentes; também reconhece que às vezes as palavras faltam para nomear essa paisagem renovada.


Com "Mulheres (in) Visíveis", desta vez ela cruza dois objetivos: a decisão de tornar visível o trabalho de artistas femininas, mas também de explorar um tema, o do feminismo na arte. Para a curadora, é impossível oferecer uma exposição sobre feminismo na arte e não inserir obras de artistas do sexo masculino pelo bom motivo de estender o diálogo da invisibilidade diaspórica masculina e fazer (re)pensar sobre a ausência das mulheres negras nas artes de uma maneira quase esporádica.


Das mais de 320 obras oferecidas por mais de 160 artistas, nem todas eram feministas, mas muitas são. Todos não implantaram uma visão teórica sobre gênero, mas alguns o fizeram, o que levou Patricia em seu trabalho de pesquisa e dos quais ela adicionou certos textos ao catálogo da exposição. Muitos artistas explicitamente registraram em seus processos, a emancipação da mulher na criação artística entre mulheres artistas. Trabalhos como o da artista Zaika dos Santos "BAST", a linguagem do afrofuturismo recheado de significados e divindades como o caso do "gato" que simbobilza a fertilidade bem como a proteção das mulheres ou da artista Raildes Moro “TITÉRE DO SEXO” que vão desde padrões convencionais, liberdades e amarras na inserção de materiais como crochê com fios de linhas e tiras que saltam e escorrem pelo trabalho. A exposição também abriu com vídeos e performances como da artista Thais Alessandra “LUGAR DE FALA? que trás em seu pano de destaque o silenciamento sistêmico causado pela ausência do corpo negro em espaços institucionalmente negligenciados pelas marcas sociais.


FLUXOS CONTÍNUOS, Luisa Magaly


LUGAR DE FALA? , Thais Alessandra


BAST, Zaika dos Santos

Não menos que isso, mais adiante, uma sala mostra três artistas trabalhando em torno dos traços dos espaços, através da palavra impressa, falada e através de movimentos; elementos como terra, água, metal e até o sal grosso que canaliza energias negativas puderam ser vistas na instalação “FLUXOS CONTÍNUOS” da artista Luiza Magaly. Uma metáfora para o lugar das mulheres vazias? Possível, mas não seguro - todos esses trabalhos não dizem necessariamente algo sobre o feminino, mas sobre como essas mulheres (e homens) enxergam a invisibilidade das mulheres no geral, nesses espaços.


Algumas artistas femininas se recusam a ser rotuladas como tal. Outros navegam entre categorias, às vezes não muito confortáveis. Mas boa parte delas, cujo trabalho fala de uma constante reflexão sobre o feminino, seja ele atribuído ou reivindicado, exploram ao máximo os limites de ser mulher como se fossem deusas, em território totalmente masculino. Por Patricia Brito


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